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Desemprego cai para 5,6%, mas melhora esconde fragilidades

Desemprego cai para 5,6%, mas melhora esconde fragilidades

31.10.2025 · 2 mins de leitura

A taxa de desocupação no trimestre móvel encerrado em setembro de 2025 ficou em 5,6%, repetindo a menor taxa da série histórica iniciada em 2012, segundo a PNAD Contínua divulgada pelo IBGE. O recuo foi de 0,2 ponto percentual na comparação com o trimestre anterior (5,8%) e de 0,8 p.p. ante o mesmo período de 2024 (6,4%).

Apesar da leitura positiva no indicador de desemprego, outros sinais do relatório mostram que a folga no mercado ainda persiste — e que a melhora não é homogênea. A taxa de subutilização (pessoas que gostariam de trabalhar mais ou não encontraram trabalho adequado) permaneceu elevada em 13,9%, o que indica que parte da população ocupa postos precários ou trabalha menos horas do que gostaria. Além disso, o contingente de desocupados foi estimado em cerca de 6 milhões de pessoas. Esses números relativizam o efeito do índice de 5,6% e sinalizam vínculos de trabalho ainda frágeis para muitos brasileiros.

Setores específicos puxaram a geração de vagas: os agrupamentos de Agropecuária e Construção foram destaque ao criarem mais de 500 mil postos frente ao trimestre móvel anterior, contribuindo para a expansão da população ocupada no curto prazo. Esse padrão reforça a natureza setorial e, por vezes, sazonal dos ganhos recentes — obras civis e safra podem elevar temporariamente a ocupação sem, necessariamente, fortalecer postos de trabalho duráveis e formais em outras áreas.

Outro ponto relevante é a evolução da renda. A massa de rendimento médio real atingiu novo recorde, chegando a R$ 354,6 bilhões, e o rendimento real habitual apresentou leve alta — o rendimento médio habitual foi reportado em cerca de R$ 3.507 no trimestre. Esses números mostram que, em média, a remuneração apresentou ganho, mas importa verificar a distribuição desses aumentos: se concentrados em setores específicos ou em postos formais, o efeito sobre consumo e bem-estar será diferente do que um ganho disseminado na base da pirâmide.

No campo das expectativas, analistas e sondagens de mercado têm apontado projeções próximas a essa leitura — a mediana de projeções para o fim do ano estava em torno de 5,7% — o que sugere que o resultado ficou alinhado às expectativas de mercado. Ainda assim, a manutenção da taxa em patamar mínimo histórico levanta a questão da sustentabilidade: será que a economia seguirá absorvendo trabalhadores com ganhos reais de renda, ou o ajuste pode depender de fatores temporários (safra, obras) e de políticas públicas de estímulo?

Em suma, o dado de 5,6% é uma notícia positiva e simbólica — é a menor taxa desde 2012 —, mas precisa ser lido com cautela. A persistência de alta subutilização, a concentração da criação de vagas em alguns setores e as incertezas sobre a distribuição dos ganhos salariais indicam que avanços estruturais no mercado de trabalho ainda dependem de recuperação mais disseminada da atividade, melhoria da qualidade das ocupações e de políticas que promovam empregos formais e produtivos. Policymakers e analistas devem observar as próximas divulgações para ver se a tendência se confirma de maneira robusta ou se reflete componentes temporários.